Julio Severo
Em seus meses finais, Muhammad Ali, que morreu na sexta-feira aos 74 anos, estava promovendo o islamismo, a religião que ele adotou na década de 1960.
“Os muçulmanos fariam muito bem em considerar os desafios que muçulmanos como Malcolm X e Muhammad Ali tiveram de lidar,” disse Dawud Walid, diretor-executivo da filial no Michigan do Conselho de Relações Americano-Islâmicas.
Walid, que conduziu rezas por Ali no domingo numa mesquita de Detroit que Ali costumava visitar, recorda como criança na década de 1970 que ele recebeu um boneco de Ali, que levou à sua eventual conversão ao islamismo.
Ali, que era de origem batista, renunciou ao Cristianismo aos 22 anos para se tornar o mais famoso convertido ao islamismo na história dos EUA quando ele anunciou que havia se juntado ao movimento islâmico negro sob a orientação de Malcolm X logo depois que ele se tornou campeão pela primeira vez. Ele acabou rejeitando seu nome “branco,” Cassius Clay, que ele considerava um “nome de escravo,” e usou em vez disso o nome “Muhammad Ali,” conferido a ele por Elijah Muhammad, fundador da Nação do Islã.
O surgimento de Ali coincidiu com o movimento de direitos civis nos EUA e a imagem pessoal dele ofereceu aos jovens negros uma paixão radical islâmica que eles não obtinham do pastor evangélico Martin Luther King.
Ali com um cartaz na década de 1960 dizendo: Alá é o maior |
Como muitos negros americanos, a primeira experiência de Ali com o islamismo foi por meio da Nação do Islã, o movimento nacionalista negro extremista, iniciado em Detroit, que defendia uma espécie de violenta Teologia Islâmica da Libertação Negra.
“Eu sou os EUA. Eu sou a parte que vocês não reconhecerão,” Ali disse. “Mas se acostumem comigo… com minha religião, não a de vocês.”
Decisivo para sua propaganda islâmica foi a hegemonia cultural americana, que torna qualquer fama e propaganda mundial. Sem ela, ele mal teria sido, equivocadamente, o maior atleta do século — a serviço do islamismo. Essa hegemonia tem sido uma plataforma eficaz para a expansão islâmica.
No passado, essa hegemonia funcionava de modo positivo para a expansão do Cristianismo — os EUA eram o maior campeão de missões protestantes do mundo. Mas com a crescente decadência moral dos EUA e uma redução dramática do evangelicalismo conservador (os EUA passaram de uma população 98% protestantes no final do século XVIII para menos de 50% hoje), funciona agora para qualquer ideologia, inclusive o islamismo.
Uma das mensagens finais de Ali foi defendendo o islamismo. Os comentários de Trump, disse Ali, “alienam muitos de aprender sobre o islamismo.”
Ele morreu com a idade de 74 anos depois de sofrer por mais de três décadas com a doença de Parkinson, que está ligada a traumas na cabeça por causa da carreira de boxe dele. Essa doença roubou a força física dele e matou sua loquacidade.
Com informações da Associated Press, revista Charisma e Reuters.
Versão em inglês deste artigo: Muhammad Ali’s Fight for Islam
Fonte: www.juliosevero.com