É um desafio manter-se
estável. Nós, que vivemos em um país instável, de espírito instável,
com aquela alma latina passional, lutamos para não parecermos vacilantes
e inseguros. Nos deparamos, diariamente, com uma batalha por
mantermo-nos firmes e motivados, mas há dias que estamos mais
entusiasmados que outros.
Para os que dizem ter fé, então, tudo
isso parece mais desafiador ainda, pois o desânimo toma contornos de
pecado. Parece inadmissível fraquejar, por um instante que seja.
Todavia, a insegurança e a dúvida nunca deixam de, em algum momento,
apresentar-se para todos e isso, para quem espera viver na fortaleza
inabalável da fé, torna-se como uma acusação contra suas próprias
convicções.
No entanto, nada dá mais segurança do que
enfrentar a realidade como ela se apresenta, e nada é mais certo do que
a instabilidade da alma humana. Portanto, aceitar esta instabilidade é o
que pode haver de mais fortalecedor.
Mas como anunciar uma fé de esperança
sendo ainda instável? Não parece isso uma grande ilusão e até uma
hipocrisia? Se esta fé é um fundamento firme e uma certeza, não deveria
ela, de maneira imediata, transformar seu portador em uma pessoa
inabalável?
Quem acredita que um cristão é alguém que
não tem mais qualquer dúvida, nem medos, nem vacilos, sequer entendeu o
que é o cristianismo. Não compreendeu a proposta divina e confunde a
transformação que ocorre na vida de um convertido, que é gradual e
constante, com aquilo que ele um dia será. Querer que neste momento o
homem se desfaça completamente de todas suas instabilidades é antecipar o
céu e negar a realidade presente. Se lá é a certeza da vida iluminada
pela presença divina que se manifestará, aqui, o que temos são apenas
vislumbres atenuados daquela luz. Portanto, não estamos prontos.
Entender esse caráter transitório e
intermediário de nosso ser é a fonte para a saúde espiritual. Ter
consciência que o presente é uma perpétua luta entre as forças extremas
do céu e da terra em cada um é a única forma de se manter são. Negar
isso, é mergulhar em paranóia e frustração.
Por outro lado, aceitar o fato de que há
uma batalha constante em nosso ser é, por contraditório que pareça,
aquilo que nos fará mais fortes. Um bom soldado, afinal, é aquele que se
prepara para a guerra.
Cansei de ver, na minha experiência
cristã, pessoas que em um momento pareciam inabaláveis, seguras e
indubitáveis caírem fragorosamente. Quando a Bíblia alerta para que
aquele que está em pé cuide para não cair (1Co 10.12) não diz isso como
uma ameaça, mas como um alerta sobre a realidade da natureza humana. Por
isso que Paulo, logo em seguida (v. 13), como que para confirmar essa
realidade, afirma que toda a tentação que sofremos é humana.
Ser humano é isso mesmo! É estar no meio do caminho entre duas realidades extremas: o céu e o inferno.
Bruzo Zevi, arquiteto italiano, dizia que
o cristianismo glorifica o homem dinâmico. Isso é bem interessante e
pode ser entendido de diversas formas. O cristianismo é uma religião
universal, que permeia todo o mundo, que se baseia em uma ordem de
pregação dada por seu mestre. É também uma religião de vocação, que é a
resposta a um chamado, que é um caminho de volta a Deus. Mas também o
cristianismo é dinâmico porque o homem é dinâmico. Ele não é ainda um
ser pronto. Sequer sabe ao certo seu destino eterno. Ele está entre a
salvação e a perdição.
O homem presente é dinâmico e não
estático. Ele está em um movimento ascendente ou descendente.
Certamente, aquele que acredita que pode viver apenas na manutenção de
seu status é certo que se encontra em movimento descendente.
Diante disso, há para este homem um ideal
(inalcançável no presente mundo), que é a perfeição. Esta, nada mais é,
do que a plena capacidade de sua espécie. Isso, porém, apenas no céu.
Mas o ideal é um norte, uma direção. Portanto, quando a Bíblia nos chama
à perfeição, ela não espera que sejamos sem falhas, mas que, dinâmicos
que somos, tomemos a rota ascendente em direção a ela.
Os salvos, os santos, os perfeitos não
são aqueles que já desfrutam de tais estados, mas os que seguem na
direção de atingir a salvação, a santidade e a perfeição. São para
aqueles que se encontram no caminho ascensional que Cristo pode dizer,
como disse para o ladrão da cruz, que se encontrará com eles no Paraíso.
O ladrão, ainda que sem tempo de provar sua fé, de demonstrar em atos
seu reconhecimento da divindade de Cristo, pôde ser salvo pois, naquele
momento, se colocou na rota ascendente.
Não há, portanto, porque pensar em
desistir, só por causa dos tropeços que tomamos nesta vida. Há pessoas
que esperam tanto de si, que acreditam que precisam ser tão imunes aos
vacilos que, quando caem de alguma maneira, não encontram mais forças
para levantar. Lembrem-se: cuidemos para não cair, mas se isso
acontecer, Deus é fiel (1Co 10.13) para nos dar o escape propício.
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