6.01.2014

Os pés dos que sofrem Por Carlos Bezerra Jr.








Esses dias, fui parado por uma senhora em minha comunidade de fé. Ela se dizia orgulhosa de me ver em lugares importantes, fora do país e tal… Mulher de oração. Fiquei feliz. Mas ela ainda não tinha terminado. Continuou, dizendo que Deus nos chamou pra lavar os pés uns dos outros – e que eu não fazia nada além do que Ele pedira. Daqui de Genebra, na 103ª Conferência Anual da Organização Internacional do Trabalho, eu concordo com ela. Nada do que faço terá importância se não for a serviço de quem não tem. É daqui de Genebra, onde vejo grandes reuniões e auditórios suntuosos, que outra realidade segue gritando em meu coração.

Não falo só de trabalho escravo – tema que tem concentrado meus esforços nos últimos tempos. Falo da causa das crianças vítimas de violência. Das que perderam suas vidas e das que vão perdê-las na exploração sexual da Copa. Falo das mulheres que sofrem com a violência, em casa, no trabalho ou nos trens de São Paulo. Falo daqueles das periferias, dos invisíveis, dos que não tem vez nem voz.

Daqui, olho para trás, e reconheço a boa mão de Deus. Não como quem confirma passos e decisões (não esse Deus só amigo dos bem-sucedidos). Mas como quem usa qualquer um para defender quem precisa. Daí a Medicina, que cursei com esforço. Daí a luta para levar atendimento médico de graça a quem não tinha como pagar – antes mesmo de pensar em política. Daí a luta pelo Mãe Paulistana em defesa das grávidas cujos filhos vi morrer por falta de um simples pré-natal. Daí a indignação, as primeiras leis, os desafios, a defesa dos Direitos Humanos e a luta de uma vida.

Quando olhamos para o tamanho da injustiça, qualquer avanço é gota d’água. E eu peço ao Pai, misericórdia. Lembro-me do olhar da boliviana escravizada e violentada quando se viu liberta. Do choro da mãe quando contei sobre o bebê que perdera – num tempo em que lugar pra dar à luz não era garantido por lei. Do desamparo da criança abusada explicando a violência sofrida a servidores públicos despreparados. Tantas histórias veladas. Tantos rostos anônimos. Queria poder encontrá-los uma vez mais. Tê-los comigo de novo contando suas verdades. Dos mártires desconhecidos que cruzei pelo caminho é o mérito de qualquer conquista.

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